Saiba quais são os 12 erros mais cometidos na redação do Enem e como escapar deles

02/10/2015

Para escrever uma redação nota 1.000 no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o candidato deve estar bem treinado nas cinco competências avaliadas durante a correção do texto. Na primeira delas, a banca avaliadora irá conferir o domínio da norma padrão da língua escrita. De acordo com os professores, é nessa habilidade que se concentra a maioria dos erros dos candidatos: ortografia, acentuação e uso de expressões da língua falada são os principais deslizes que derrubam a nota.
Além de domínio da norma culta, o estudante precisa ainda compreender a proposta do texto dissertativo, defender um ponto de vista com bons argumentos, demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos e elaborar uma proposta de intervenção para o problema abordado na prova.
A pedido do site de VEJA, professores de cursinhos listaram as falhas mais comuns dos estudantes na hora de produzir a dissertação. Os erros vão desde fuga do tema – que resulta em um zero na redação – até uso de abreviações da internet. Confira os 12 principais erros cometidos pelos participantes e saiba como escapar deles:
Os erros mais cometidos na redação do Enem
01. Fuga ao tema
A proposta de redação no Enem tem um tema dado pelo enunciado e três textos de apoio relacionados ao assunto. Suponha que o tema apresentado pelo exame seja `ações dos governos para combater a crise hídrica`. O candidato, então, escreve um texto apresentando boas informações sobre a questão da escassez de água (dados geográficos e informações sobre o abastecimento), mas não fala nada sobre as ações de governo. A nota é zero.
Falar apenas sobre um aspecto do assunto em vez de abordar todo o tema acontece porque o aluno não dá a devida atenção à proposta de redação e aos textos motivadores – ambos muito importantes. “Normalmente a redação do Enem traz três textos de apoio, é preciso primeiro ler e considerar todos os textos para, só assim, escrever a redação”, diz Aníbal Telles, professor de redação no cursinho Anglo. “Isso acontece, muitas vezes, quando o candidato se identifica ou conhece um dos textos. Ele se empolga e se esquece de relacionar todos os textos de apoio”, completa Telles.
02. Ambiguidade
A ambiguidade é resultado de textos mal elaborados. Ela surge quando uma mesma frase possui sentidos diferentes, contrários até, confundindo a interpretação e a intenção do autor.
Exemplo com ambiguidade: “Houve discussão sobre o tráfico de drogas no Senado”
Na avaliação dos professores, há no exemplo acima uma ambiguidade gravíssima. A frase não deixa claro se o Senado discute a questão do tráfico de drogas — onde quer que ele ocorra —, ou se o que está em debate é o tráfico ocorrido no interior da Casa legislativa. Se a intenção é dizer que o Senado discutiu a questão do tráficon no Brasil, a frase poderia ser escrita como no exemplo a seguir: “Em uma sessão do Senado, houve uma discussão sobre o tráfico de maconha.”
`A orientação é que o candidato seja bem específico no que escreve e se certifique de que as frases expressam exatamente o que ele está pensando. Para isso, deve ler e reler as sentenças, imaginando todas as possíveis interpretações`, afirma Aníbal Telles, professor de redação no cursinho Anglo.
03. Períodos muito longos
Frases longas podem ser um problema para a coesão do texto. Uma frase copmprida tem em média mais de 25 palavras. Quanto mais longas, maior a chance de erros. “O uso de conectivos inapropriados pode prejudicar o entendimento do texto. Além disso, as frases longas prejudicam a compreensão e dão chance a problemas de concordância”, diz Lilio Paoliello, diretor pedagógico do Cursinho da Poli.
Confira um exemplo de frase longa com erro:
`Um homem costumava escrever para seus pais, que moravam no interior do país, e contar sobre suas aventuras na capital e também em outras cidades espalhadas pelo continente e pelo mundo, sempre escondendo nas cartas problemas que têm no dia a dia.`
Nesse caso, o sujeito é `o homem`. É ele quem escrevia e contava as aventuras. É ele também quem escondia os problemas. Logo, está errado o trecho `… problemas que têm no dia a dia.` Isso seria correto se o sujeito fossem os pais, já que o verbo “ter” está no plural.
A sugestão é preferir frases curtas ou médias com, no máximo, 15 a 20 palavras. O exemplo com frases mais curtas eliminaria o erro:
`Um homem costumava escrever para seus pais, que moravam no interior do país. Nos textos, contava sobre suas aventuras na capital e também em outras cidades espalhadas pelo continente e pelo mundo. Ele sempre escondia, porém, os problemas do dia a dia.`
04. Generalização e terceirização de problemas
Uma das cinco competências da redação do Enem exige que o candidato elabore uma proposta de intervenção ao tema proposto. “É preciso evitar argumentos que convoquem terceiros a lutar pela causa. A ideia do Enem é que o aluno pense detalhadamente em uma proposta de intervenção considerando as próprias ações”, diz Aníbal Telles, professor de redação no cursinho Anglo.
Exemplo: “Vamos todos corrigir o grave problema da violência contra a mulher”.
Nesse caso, o aluno deverá detalhar como isso pode ser feito, sugerindo, por exemplo, programas sociais nas escolas públicas. O mesmo vale para generalizações. É o caso de afirmações como `as pessoas não se preocupam com o meio ambiente`. O candidato não pode garantir que todas as pessoas não se preocupam com o meio ambiente – a afirmação se torna, assim, imprecisa.
Além disso, palavras como “todos”, “nunca”, “jamais”, “único” e `sempre` devem ser evitadas, pois ajudam a construir generalizações indevidas.
05. Escrever em primeira pessoa do singular
No texto dissertativo-argumentativo é necessário escrever na terceira pessoa do singular. Termos como “na minha opinião”, “eu acho”, “eu penso” e “no meu ponto de vista” fogem da impessoalidade do texto proposto.
Exemplo com erro:
“Eu acho que a terra é redonda”
O pronome `eu`, da primeira pessoa do singular, transmite uma opinião, o que foge da proposta dissertativa. O correto seria:
“A terra é redonda.`
Além de ter o tom impessoal, a sentença também demonstra mais objetividade e força.
06. Expressões típicas da língua falada e gírias
A primeira competência da redação do Enem avalia a capacidade dos candidatos em demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa. Isso exige, portanto, escrever dentro dos padrões da norma culta. Por isso, o candidato deve evitar expressões típicas da língua falada, registros da oralidade e gírias como “né”, “daí”, “tipo assim”, “tá ligado”. Prefira marcadores da língua padrão: “após esse instante”, “depois disso”, “além disso”.
A gíria pode ser usada, mas o estudante precisa deixar claro que sabe que se trata de um termo típico da língua falada. “Se forem aplicadas para exemplificar algo, colocadas entre aspas, pode valer a pena. Já os vícios da escrita informal e da escrita em meios digitais devem ser evitados”, disse Lilio Paoliello, diretor pedagógico do Cursinho da Poli.
Além disso, também é preciso evitar o uso de abreviações da internet, como “vc”, “tb”, “cmg”, “pq”, “pra”. Prefira “você”, “também”, “comigo”, “porque”, “para”.
07. Erros ortográficos
Os erros ortográficos são o mais comum nas redações. “Os equívocos podem ser evitados com muita leitura e com atenção para os recursos utilizados pelos autores e para a forma e tom com que escrevem”, afirma Lilio Paoliello, diretor pedagógico do Cursinho da Poli.
Erros ortográficos mais comuns: concientização (errado) no lugar de conscientização (certo); pretencioso (errado) em vez de pretensioso (certo); compreenssão (errado) em vez de compreensão (certo).
08. Uso incorreto das palavras `mal` e `mau`
Outro erro comum é a confusão na escolha das palavras “mau” e “mal”. Mau é um adjetivo, ou seja, qualifica um substantivo, como ocorre em “menino mau”. Já “mal” pode assumir a função de substantivo ou advérbio, ou seja, qualifica um verbo ou adjetivo.
Para facilitar, os professores aconselham uma antigaorientação: nas frases, substitua as palavras por seus antônimos: “bom” em lugar de “mau” e “bem” em lugar de “mal”.
Exemplos: “Fernanda anda mal de bicicleta.” >> substitua por >> “Fernanda anda bem de bicicleta.” “João é um mau exemplo.” >> substitua >> “João é um bom exemplo.”
09. Falta de progressão textual
As ideias do texto devem fluir da maneira mais compreensível e natural possível. Antes de iniciar a redação, organize um roteiro com suas ideias sobre o tema e a ordem em que serão apresentadas. “Normalmente o texto dissertativo argumentativo é divido em três grandes blocos, começando pela introdução, depois desenvolvimento do texto e por fim a conclusão”, diz Lilio Paoliello, diretor pedagógico do Cursinho da Poli.
Para evitar erros nessa questão, os professores sugerem o uso de marcadores de conexão, que ajudam a dar ritmo e progressão ao texto. Os conectivos são conjunções que ligam as orações e ajudam a estabelecer a ligação entre as orações.
Conectivos como: “contudo”; “entretanto”; “porém”; “todavia”; “no entanto”; “embora”; “ainda”; “uma vez que”, são grandes aliados para contribuir para a progressão textual.
10. Não use palavras que não façam parte de seu vocabulário
A vontade de demonstrar domínio da norma culta pode levar candidatos a empregar termos sofisticados e incomuns de maneira equivocada. “Quando não tiver certeza do emprego deste ou daquele termo, seja pela grafia ou pela pertinência gramatical, troque-o por outro que dê o mesmo sentido à ideia que deseja desenvolver”, afirma Lilio Paoliello, diretor pedagógico do Cursinho da Poli. “Essa habilidade só se consegue com muita escrita, erros e acertos.” Um dos erros mais comuns está no uso de `adentrar` no lugar de `entrar”. Porém, é preciso lembrar que `adentrar` é um verbo transitivo direto e, por isso, pede objeto direto (sem preposição). Exemplo: `A mãe entrou na casa.` (certo) `A mãe adentrou na casa.` (errado) Para não correr o risco de errar a orientação é uma só: não precisa falar difícil, é preferível escolher palavras e construções simples e prezar pela clareza do texto.
11. Crase
Os erros de acentuação gráfica normalmente acontecem por dois motivos: desconhecimento das normas ortográficas e gramaticais ou desconhecimento da posição correta da sílaba tônica. Nas redações, é possível destacar erros comuns em relação ao uso da crase.
A orientação é olhar para a palavra que segue o uso do `a` do com crase: se for masculina, um verbo ou pronomes como `você, `ele`, `ela` não tem o acento tônico. Haverá crase sempre que o termo antecedente exija a preposição e o termo consequente aceite o artigo a.
12. Uso incorreto do pronome relativo `onde`
Os pronomes relativos substituem um termo da oração anterior e estabelecem relação entre duas orações. Porém, como o pronome relativo `onde` entra na classe de pronomes relativos invariáveis como `que` e `quem`, muitos candidatos erram no uso do pronome como conjunção. Por exemplo:
“A palestra apresentou muitas ideias, onde nós aprendemos muito”. (errado)
O pronome relativo “onde” só deve ser usado como referência para lugares. A melhor opção nesses casos é substituir a palavra por conjunções como: “no qual” “na qual” e “em que”, por exemplo.

Fonte REVISTA VEJA – SÃO PAULO, SP